segunda-feira, janeiro 23, 2017

Neruda, de Pablo Larrain **1/2

O chileno Pablo Larrain é um diretor que apresenta um certo grau de teor autoral e ousadia em sua filmografia. Em seus melhores momentos, como “No” (2012) e “O clube” (2015), conseguiu obter uma expressiva síntese de formalismo inquietante e temática de forte teor contestatório. Dessa forma, sua obra mais recente, “Neruda” (2016), acaba parecendo frustrante diante de seus trabalhos anteriores. Não que seja propriamente um filme ruim. Dá para perceber em algumas passagens da produção ideias estéticas bem sacadas, como a estilização da narrativa carregada de simbologias, o uso insólito de truques digitais e a atmosfera hedonista e algo delirante de determinadas sequências, e mesmo uma perspectiva histórica sobre o tema, a fuga do poeta e político Pablo Neruda (Luis Gnecco) durante o período em que o seu partido comunista foi declarado ilegal no Chile, que tem um certo aprofundamento psicológico e existencial. O grande problema do filme, entretanto, é que esses aspectos positivos não se integram de maneira orgânica diante de um teor indulgente na execução dessa concepção intrincada. Faltou um rigor artístico mais contundente na condução da narrativa por parte de Larrain, o que faz com que o filme em alguns momentos descambe para o melodrama brega e barato, o que fica evidente na caracterização canastrona de Gael Garcia Bernal como o antagonista Oscar Peluchoneau e na preguiçosa plasticidade de várias cenas.

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