segunda-feira, janeiro 09, 2017

A lenda do pianista do mar, de Giuseppe Tornatore ***

No melhor e no pior de sua filmografia, o cinema do diretor italiano Giuseppe Tornatore é marcado por uma conturbada síntese entre barroquismo pomposo e exagerado e uma forte carga sentimental (que por vezes cai no cativante, por vezes afunda na breguice). “A lenda do pianista do mar” (1998) é um dos seus trabalhos em que essa sua habitual fórmula se revela melhor acabada. A partir de um roteiro repleto de alegorias e melodrama, a produção apresenta estética e atmosfera que evocam o delírio e o onirismo que marcaram algumas das produções mais emblemáticas de Federico Fellini (nesse sentido, “E la nave va”, por sua ambientação igualmente marinha, seja a conexão mais próxima). O encantador tom artificialista da fotografia e a música exuberante de Ennio Morricone colaboram nessa atraente orientação irreal da narrativa. Por outro lado, há um excesso de teor caricatural na caracterização de personagens e situações e soluções convencionais em demasia no roteiro, o que retira muito do potencial de tensão dramática do filme. Mas ainda que fique esse gosto de inconsistência, o saldo final é positivo por algumas já aludidas ousadias na construção de sua linguagem, e por ser, de certa forma, um enfático exemplar dos dilemas artísticos de Tornatore.

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